segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O Fracassado

Sempre fui o melhor da minha turma. Ainda quando estava no ensino infantil, no Instituto Educacional Caminho do Saber, sempre tirava as melhores notas. Era o orgulho da mamãe, pois todos professores me 'babavam'. Fui o orador da turma, recebi medalhas e homenagens. Lembro que quando terminava uma prova eu queria 'ajudar' meus coleguinhas. Quando terminei a 4ª série, alguns professores recomendarem que minha mãe  me colocasse em colégio melhor.

Naquela época fiz teste para dois colégios: Militar e Lourenço Filho. Não quis passar no primeiro, ouvia dizer que lá tinha muitas regras e ainda tinha que cortar o cabelo no zero. No tempo tinha um cabelo grande (para homens) e não queria cortar. Assim, dediquei-me apenas à prova do Colégio Lourenço Filho. Passei. Entre os primeiros. Ganhei bolsa para os primeiros seis meses no novo colégio.

Lá conheci um mundo diferente. Tinha laboratório. De informática e de Química. Tinha quadra grande. Ou seja, várias oportunidades para aquele que sempre foi o melhor em tudo. No Lourenço passei oito anos, incluindo um ano de Cursinho.
Nesses oito anos, não fazia o que meus colegas faziam: curtir à toa. Não gazeava aula, não comia ninguém (do colégio).  Nunca fui para uma casa de praia. Não usei drogas. Quando pegava uma menina bonitinha, se apaixonava. Quando resolvia beber, ficava embriagado com dois goles de qualquer coisa. Não ia à festas, pois não tinha grana. Maioria dos caras lá eram 'filhos de papaizinho'.

Talvez só consegui exito na Seleção de Futsal do Colégio. Muitos títulos 'conquistei'  na reserva. Minha primeira peneirada foi para basquete. Nada a ver né? Não passei. No segundo ano tentei de novo, já para futsal. Novamente em vão. Resolvi participar da escolinha, lá alguns 'subiam' para a seleção. Era o terceiro goleiro, praticamente só treinava. Ninguém me reconhecia como 'Goleiro da Seleção'.

Já quando cursava o Ensino Médio, consegui me estabelecer. Era reserva do eleito melhor goleiro do Nordeste na época. Entrava aqui acolá em alguns jogos. Geralmente no final. Em uma dessas, entrei numa final, fiz boa atuação, fui campeão. Enfim, na minha melhor fase, consegui desbancar o titular. Joguei todo o Campeonato Cearense, não me lembro qual ano. Na final contra o Farias Brito, sai faltando uns 10 minutos, estava 0 a 0. O antigo titular entrou, falhou e perdemos o jogo. Sempre ficava faltando alguma coisa pra mim.

Ainda como um dos melhores da turma nos estudos (apesar de não ser da turma especial...) fiz meu primeiro vestibular. Não entendia a dificuldade que era. Consegui passar na primeira fase: Odontologia. Recebi o carinho de todos. Achava que já estava 'dentro'. Resultado: Zerei Biologia na 2ª fase.
O consolo que recebi na época foi que eu ainda era muito novo. Tentei a segunda vez. Agora para Engenharia Quimica. Mais uma vez passei na 1ª fase. Desta vez entre os 30 melhores. Sabia que era minha hora. Mas, novamente, fracassei. Com 17 anos já queria jogar tudo pra cima, eu já era um fracassado.  Esperança da familia, dos professores e colegas era uma farsa. Eu não queria mais saber de estudo. Joguei tudo pro alto, preferi ficar em casa, lia um livro aqui acolá.

No fim de 2006, já com 18 anos, resolvi encarar mais uma vez o vestibular. Universidade Federal mais uma vez a enfrentar. Quimica desta vez. O resultado? Passei novamente. Só que também tinha feito vestibular para Jornalismo em uma faculdade particular. Havia passado, em 2º lugar geral (nunca o 1º), tinha garantido uma bolsa para os primeiros 6 meses. Assim, não resolvi nem tentar mais a 2ª fase a federal.

Começar o curso superior fez reacender as esperanças do fracassado. Resolvi voltar a pensar na vida. Encontrei uma namorada 'de verdade'. Juramos amor eterno. A eternidade chegou a quase dois anos. Com o fim, fui ao chão. Fiquei sem teto. Mais uma vez o estigma do fracasso estava dentro de mim.

Demorei para levantar. Resolvi jogar tudo pra cima de novo. Sai comendo tudo que era mulher, dos outros inclusive. Cachaça e cerveja eram certas todos finais de semana. Quando não entrava pela segunda e terça. Queria fazer tudo que eu não fiz. Quase entro em contato com as drogas. Um amigo estava na dependência.

Até a metade de 2009, vivia na bagaçeira. Foi quando passei por uma longa seleção para entrar no Jornal O POVO. Depois de 3 meses em estágio não remunerado, fui contratado. O estigma do fracasso, o que chamo de 'fantasmas', havia ido embora. Mais uma nova fase começava.

Mas a verdade é que não me sinto bem no cargo. Aspiro outras áreas, para isso, envio quase diariamente novas ideais, algumas são aceitas, outras não. Para as que são aceitas, não recebo agradecimentos. Não consigo alcançar a tranquilidade em casa, brigas e mais brigas sempre acontecem. Não consigo administrar meus gastos. Há meses pago juros do cartão. Não consigo produzir minha monografia. Não consigo se quer administrar meu namoro. Algo mais forte dentro de mim não deixa eu alcançar meus objetivos. Eu sou um fracassado.

Quem sabe Deus guarda algo de especial para mim. Eu peço que venha logo.