sábado, 14 de agosto de 2010

Momentos finais

Sempre fico pensando o que ocorre com as pessoas momentos antes de morrer. Falo do que estavam fazendo, do que pensavam em fazer naquele que seria o seu último dia.

Sabe aquela criança que sonhava em ser um jogador de futebol e de repente é assassinada por um policial despreparado. O universitário que sonhava em se formar e realizar seu sonho de trabalhar em uma grande empresa. A professora que dava aulas gratuitas para crianças carentes e de repente é morta por um motorista embriagado.

O que essas e outras pessoas fizeram nos seus momentos finais. Estavam alegres? Estavam tristes? Como se sentiam...

Não ligo muito para aqueles que "pedem para morrer" todos os dias: pessoas que escolheram o submundo do tráfico e da violência. Mas e aqueles que um dia passaram por esta vida e foram tocadas por Deus e estavam se recuperando?

Vou dar o exemplo do meu tio, que morreu há um ano.

Antônio era o nome dele. Desde cedo escolheu o lado ruim da vida. Tentou matar minha vó, esta que o sempre amou, era usuário de drogas, andava armado e não tinha medo de ninguém. Onde chegava arrumava confusão. Tinha inimigos. Assim foi grande parte de sua vida.

Mas no último ano, resolveu mudar. Creio que Deus o tocou. Conseguiu um emprego, abandonou parcialmente as drogas, só tomava "uma para jantar". Minha vó sentiasse bem melhor. As pessoas não tinham mais medo dele. Queriam ele na roda de amigos.

Certo dia após o trabalho, chegou em casa como de costume e pediu para que uma tia (irmã dele) preparasse a "janta". Ele só ia tomar banho e beber "aquela para jantar". Era sua última.

Do outro lado do bairro, um homem chamado Neto, preparava a "tocaia". Para todos Neto anunciava a morte do meu tio. Temerosos, aqueles qeu escutavam não diziam nada. Neto já sabia tudo o que fazer, chegou a combinar até a fuga com um comparça. Colocou "pexeira" na cintura, cheirou uma carreira de cocaína e foi cumprir seu objetivo.

Enquanto isso, "Tio Toin" estava em um barzinho, saboreando sua última pinga. Minha vó tinha sensações ruim (o que fui saber no dia seguinte, coisa de mãe) e eu jogava bola no meu bairro. Eram 20h.

Meu tio já voltava para casa, prensado na sua "janta", quentinha e saborosa. Quando, sem perceber foi apunhalado pelas costas. Um grito alto e doloroso espantou a vizinhança. Covardemente, Neto dava o primeiro golpe.

Caído, meu tio pedia socorro, ninguém ia "se meter". Um ou outro ainda arriscava gritar, mas era ao mesmo tempo, ameaçado. Sem dó e dominado pelo ódio e pelas drogas, Neto "rasgava" meu tio. Algo que só se ver em filme de terror. Ouvir dizer que foram 12 facadas.

Uma "poça" de sangue se forma naquela pequena rua. Os irmão, que moravam alí perto foram avisados minutos depois, já era tarde. A polícia e a ambulância demoraram para chegar. Como sempre. Até seu cachorro, companheiro de moradia chegou por lá. Permanecendo quando o corpo foi levado.

Até o hoje o caso encontra-se em aberto. O assassino anda pela mesma rua que meu tio foi morto. Sem se preocupar. Minha vó, até hoje chora.

Nos seus últimos momentos ele estava feliz.

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